Parade – Léonide Massine
Produtor e diretor do grupo do Ballets russes, Serge Diaghilev concebe o ballet como lugar de confluência entre as artes: dança, música e pintura contribuem da mesma forma para a obra criada. O ballet Parade é assim criado em Maio de 1917, em Paris. Foi Jean Cocteau que imaginou o tópico: uma companhia de circo ambulante desfila à frente de uma tenda e convida os transeuntes a irem ver os seus números. O compositor Erik Satie assina a música do ballet. Ele introduz um ragtime: será a primeira aparição do jazz em palco. Pablo Picasso, para quem é a primeira colaboração com o mundo do espetáculo, desenha os cenários e os figurinos. Idealiza o seu trabalho juntamente com o do coreógrafo, Léonide Massine. Para as personagens dos «managers», realiza construções cubistas que são verdadeiros «homens cenários», cuja estrutura orienta a coreografia. O pintor e o coreógrafo concretizam aqui, segundo as palavras de Apollinaire, «a aliança entre a pintura e a dança, a arte plástica e a mímica, que é o sinal evidente de uma notoriedade de arte mais completo» (Programa do Ballets russes, maio 1917).
Crucible – Alwin Nikolaïs
Para Nikolaïs, a coreografia é uma arte de totalidade, na qual movimento, cor, forma e som intervêm da mesma maneira. Aproximando-se da cena com um olhar de pintor ou de escultor, ele foi um dos primeiros a atribuir um papel dinâmico à luz. As projeções luminosas a partir de diapositivos, os efeitos de óticas, como aqui, em Crucible, transformam o corpo dos bailarinos num tipo de ecrã móvel. Ao combinar a dança e a luz, todo o espaço do palco se põe em movimento para produzir um teatro de abstração, onde cada espetador pode dar rédea solta ao seu imaginário.
Les 7 planches de la ruse - Aurélien Bory
Em Les 7 planches de la ruse, Aurélien Bory retoma o princípio do Tangram, um jogo tradicional chinês, composto por 7 formas geométricas que podem ser combinadas de diferentes maneiras. No palco, os blocos, agora gigantes de madeira, movem-se, juntam-se e constróiem uma arquitetura em movimento, que multiplica os possíveis espaços da dança. Este é o cruzamento entre a arquitetura e a arte coreográfica: ambos trabalham a questão do espaço, da perspetiva e da perceção do mundo.
Terrain vague - Mourad Merzouki
Nessa sequência de Terrain Vague, a coreografia de Mourad Merzouki assinala a variedade de pontos de apoio que a dança pode aproveitar. Quer seja no chão, verdadeiro parceiro para o bailarino de break, ou sobre um mastro, que convida a desafiar a gravidade, o bailarino pode variar os seus pontos de contacto - pés, mãos, cabeça - com o apoio oferecido pelo cenário. Livre de explorar as alturas celestes, torna-se acrobata ou equilibrista.
Tempus fugit – Sidi Larbi Cherkaoui
Na décade de 1960, Merce Cunningham enunciou a ideia de que o movimento: ele só conta a história dele mesmo e a dança fala do que é estar vivo. Essa conceção não impede os coreógrafos de hoje em dia de se reconciliarem com a teatralidade e de recorrerem, se necessário, ao texto, tanto pela palavra como pelo jogo. Em Tempus Fugit, do coreógrafo belga Sidi Larbi Cherkaoui, a bailarina tem subitamente a palavra. Mas a sua voz é rapidamente apanhada pelo gesto. Como se as palavras não chegassem - ou fossem simplesmente perturbadoras – os outros bailarinos gesticulam, numa espécie de linguagem gestual meio inventada, meio emprestada das danças índias.
Le corbeau et le renard - Dominique Hervieu
Mais do que ilustrar Le corbeau et le renard, Dominique Hervieu escolheu recorrer a efeitos de montagem. Primeiro o texto que, recitado em várias línguas, se transforma na matéria sonora da coreografia. Esta também se sobrepõe às projeções de vídeos, confrontando então o real e o imaginário, o vivo e o virtual, para entregar à história original uma leitura desfasada com um sotaque mestiço.
Echoa - Arcosm
São histórias sem palavras, as que nos revelam os quatro protagonistas de Echoa. Se os intérpretes buscam uma espécie de pantomima, põem em jogo os seus corpos, tanto na capacidade gestual como na musical. A respiração, o busto, a boca transformam-se em instrumentos musicais e participam sonoramente na coreografia. Aqui, o bailarino e o músico confundem-se, fazem eco.
El farruquo y su grupo
Nessa sequência, o jovem e talentoso Farruquito encadeia com fervor uma série de "taconéos» - pancadas com os calcanhares -, desafiando o ritmo das guitarras e das palmas - acompanhamento com as mãos -, sob os gritos de apoio apaixonados dos músicos e dos cantores. Aqui, é o pé do bailarino que, através das suas trepidações, se transforma num instrumento de percussão e participa plenamente na interpretação musical.