Entrée d'Apollon
Aquilo a que chamamos hoje em dia de «dança barroca» é a reconstituição da «Belle danse», à qual se entregavam nobres e cortesãos desde o século XVI, e que está na origem do ballet clássico ocidental. Na época, apenas os homens o praticavam. Na verdade, a dança tinha um lugar especial na educação dos cavalheiros. Ela favorecia a agilidade, preparando desta forma para o combate. Assegurava a postura e elegância corporal, que eram uma exigência quando se fazia parte da aristocracia. Também ele um grande bailarino, Luís XIV tinha lições de dança todas as manhãs, antes de partir para a caça. Na década de 1970, Francine Lancelot iniciou a recuperação desse património coreográfico. E é o bailarino principal, Jean-Christophe Paré, que aqui recupera uma das suas muitas coreografias. Ao longo dos séculos seguintes, o ballet não parou de evoluir, concedendo sob a égide do Romantismo, um lugar preponderante para as bailarinas.
Swan Lake
Num «pas de deux» clássico, como este do segundo ato do Lac des cygnes, o bailarino está lá para apoiar a parceira. Ele permite-lhe atingir «arabesques» e «développés» extremos, e retira-se assim que ela consegue fazer a figura sozinha. O bailarino contribui para pôr em destaque a virtuosidade de quem o acompanha. O «pas de deux», também comporta sequências, nas quais o bailarino pode dar asas ao seu talento. Da mesma forma, a história parece muito mais virada para a personagem feminina, da qual mostra a sua natureza ambivalente. A branca e pura Odette tem como oposto a negra e maléfica Odile. No entanto, outros coreógrafos apresentaram mais tarde uma nova leitura desse célebre ballet. Rudolph Noureev recolocou o príncipe no centro da obra e deu-lhe um maior interesse coreográfico.
Tango vivo
Tumultuosa, é assim que podemos descrever a relação encenada pelo tango. A dança organiza-se à volta do desequilíbrio dos parceiros que se agarram e se afastam. Essa tensão permanente evoca, inevitavelmente, a paixão amorosa. Como testemunham alguns extratos de Tango Vivo, um espetáculo da companhia Union Tanguera. Seja quem for, o homem dirige e a mulher acompanha. Esse esquema arquetípico faz sobressair os traços viris do bailarino, o oposto às qualidades femininas da sua cavaleira. Sobre uma marcha onde o passo de um encaixa no do outro, surgem figuras de cariz erótico. Tanta sensualidade não deixou de suscitar a cólera dos moralistas, quando o tango desembarcou em França, em 1905.
Che Malambo
O "malambo" é uma dança igualmente nascida na Argentina. Tradicionalmente praticada pelos gauchos, desafia a resistência rítmica e física dos protagonistas, através de vigorosas batidas de pés (zapateados). Che Malambo reúne assim catorze bailarinos que, tal como uma horda selvagem resfolegam com ardor. Têm um aspeto orgulhoso, o peito inchado. Soltando gritos de bravura, retomam incansavelmente as suas batidas enérgicas. O que se exprime aqui é o temperamento feroz dos guardiões das manadas, galopando em direção à Pampa.
Odissi
A arte de Madhavi Mudgal oferece um contraste impressionante. "L'Odissi”, da qual ela é uma das mais brilhantes intérpretes, é uma dança feminina. Outrora apanágio das bailarinas do templo de Orissa, um estado do nordeste da Índia, ela constitui, hoje em dia, um dos grandes estilos da dança clássica indiana. Caracteriza-se pelas batidas dos pés, feitas segundo uma estrutura rítmica codificada, bem como pela flexibilidade do tronco e braços, que ondulam com delicadeza. O corpo desenha, dessa forma, curvas de uma sensualidade refinada. Curvilínea, l’Odissi expressa graça e feminilidade.
Welcome to Paradise
Em Welcome to paradise, uma peça célebre do reportório contemporâneo do fim da década de 1980, Joëlle Bouvier e Régis Obadia descrevem as etapas sucessivas atravessadas por um casal. Os dois coreógrafos e bailarinos sabem do que falam, pois também formaram um casal inseparável na vida real, não só em palco. Em palco, rodopiavam como navios à deriva, procuravam-se, afastavam-se e juntavam-se com a pressa do desejo. Nesse longo pas de deux, não há narrativa. Mais uma escrita coreográfica, procedendo a uma série de planos, como no cinema, ao qual a peça vai buscar várias referências. Um porté, por onde foge a bailarina, sugere um êxtase amoroso. Alguns instantes mais tarde, outro, bastante semelhante, assinala uma rutura dolorosa e não aceite.
Blue lady
Outra obra de referência da dança contemporânea, Blue Lady. Nesse solo que se tornou mítico, dado que marcou muito os espetadores, Carolyn Carlson retrata as diferentes idades e humores de uma mulher. Nas suas próprias palavras, ela procurou revelar as mil e uma facetas da sua identidade. Sem seguir necessariamente uma ordem cronológica, a coreografia evoca a eclosão da vida, a ligeireza e a alegria infantil, o mistério da maternidade, e o envelhecimento, que entorpece o corpo e deteriora o movimento.
Blue lady [revisited]
Depois de ter o dançado durante muitos anos, Carolyn Carlson procurou uma bailarina a quem pudesse passar "Blue lady". Mas o projeto não foi bem-sucedido. Finalmente, ela escolheu Tero Saarinen, um bailarino finlandês. Confiar a autobiografia de uma mulher a um homem? A ideia era um tanto absurda. Tantos que os dois artistas tinham um corpo diferente. Assim, foi necessário agir de acordo com outra perspetiva: revisitar a obra original. Ao não reproduzir a mesma coreografia, mas mantendo as principais dinâmicas, ao adotar completamente o movimento «carlsoniano», o bailarino conseguiu restituir ao universo interior da mulher. Blue Lady Revisited apresenta, dessa forma, uma reflexão magistral sobre o trabalho da intérprete coreográfica.
Corps est graphique
As mulheres tinham poucas hipóteses nos primórdios do Hip Hop. Para responder a essa forma de discriminação, Mourad Merzouki escolheu abordar o tema. Em Corps est Graphique, ele convida quatro bailarinos e quatro bailarinas a partilhar o palco, a confrontar as respetivas qualidades para demonstrar, no final, que o desafio coreográfico e a intenção estética prevalecem sobre a identidade sexual dos intérpretes. O envolvimento, a agilidade, a fisicalidade e a destreza, dos quais cada um dá provas, não é de todo uma característica do sexo masculino.
The dance of nothing
O ostracismo e a segregação são duas das principais preocupações de Liat Dror e Nir Ben Gal. Grandes nomes da dança em Israel, assinam, com The dance of nothing, um manifesto pela paz no Oriente Próximo. Evocando uma história de amor proibida entre uma Palestiniana e um Israelita, os bailarinos homens e mulheres, realizam, juntos, a mesma coreografia. Cada um segundo a sua sensibilidade, sem se preocuparem com a homogeneidade. Dessa diferença na semelhança, surge a ideia que, apesar dos nossos particularismos de sexo, cultura ou religião, pertencemos todos à grande família do género humano.